Há 17 anos, fui promovida para ocupar o posto de liderança durante o sexto mês de gestação da minha filha. Sem dúvida, esse foi um episódio que marcou a minha trajetória profissional e fortaleceu o meu propósito em incentivar a equidade enquanto líder. E neste ano, em meio a um contexto sem precedentes, essa ideia se tornou ainda mais urgente e necessária.
Um ano depois do início da pandemia, sabemos que as mulheres foram as mais afetadas. Os números indicam que, no começo de 2020, a diferença das taxas de desemprego entre homens e mulheres era de 27%. Seis meses depois, essa diferença quase duplicou, atingindo 43%.
Isso nos mostra que a inserção e permanência das mulheres no mercado de trabalho ainda é frágil. Elas, por exemplo, fazem 3 vezes mais trabalhos domésticos que os homens. Não à toa, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) identifica que as mulheres são responsáveis por três quartos de todo o trabalho não remunerado. Reflexo da dupla jornada assumida por muitas de nós.
Quando o expediente comercial termina, é hora de cuidar da casa, dos filhos ou de alguma outra pessoa por quem sejam responsáveis. Com o trabalho remoto, a jornada dupla agora pode ser vivida durante o dia todo, o que afeta o desempenho da mulher como profissional e também sua saúde mental.
Para as trabalhadoras informais no país, das quais 47,8% são mulheres negras, a pandemia gerou ainda mais instabilidade, como mostra o completo relatório sobre o Futuro Feminino organizado pelo Think Olga e Think Eva.
Os pequenos e médios negócios, por sua vez, são atividades essenciais para a sobrevivência de muitas famílias brasileiras. E temos que lembrar que esse setor foi enormemente impactado com a menor circulação de pessoas nas ruas, precisando se reinventar para sobreviver.
Diante desse cenário, como podemos fazer a diferença e nos prepararmos para outros possíveis momentos de desafio?
O digital como essencial
Reinvenção e resiliência foram palavras-chave para negócios de todos os tamanhos no ano da pandemia. As empreendedoras, por sua vez, parecem ter agido com mais rapidez na hora de implementar inovações em seus negócios, como aponta uma pesquisa do Sebrae com a Fundação Getulio Vargas (FGV): 71% das mulheres usam redes sociais, aplicativos e a internet para vender seus produtos e serviços. O delivery foi implementado em 19% dos negócios administrados por mulheres, enquanto a entrega se tornou real para 14% dos empreendimentos geridos por homens.
Esses números, inclusive, me lembram uma história inspiradora. Michelle Vasque se tornou empreendedora em 2014, quando abriu a loja Rara Beleza Plus Size, primeira marca do setor em Manaus. Alguns anos depois, após ter conhecido o programa Cresça com o Google, ela foi encorajada a apostar no digital.
Para alcançar diretamente as pessoas que buscavam por peças plus size, Michelle criou um perfil gratuito no Google Meu Negócio, atualizou sua presença on-line e passou a anunciar no Google, onde mais de 70% das clientes encontram a marca pela internet. E com a chegada da pandemia — na capital mais atingida pela crise da COVID-19 no Brasil —, a empresária não esmoreceu e resolveu intensificar o investimento no digital. Seu sistema de delivery fez tanto sucesso que foi capaz de recuperar 40% das vendas com os anúncios.
Diversidade faz bem para as empresas
Em um cenário de vulnerabilidade que estamos vivendo, há também a oportunidade — e cada vez mais expectativa dos clientes — para que marcas e empresas invistam em ações mais diretas para mitigar os efeitos da desigualdade quando a pandemia passar.
Costumo dizer que investir em diversidade faz bem para os negócios. Como? Quando se pensa em criatividade, por exemplo, é preciso apostar no diverso — e me refiro a profissionais diversos em relação à experiência, gênero, perfil e idade, refletindo o mercado no qual atuamos para podermos entender melhor as demandas dos consumidores e clientes e gerar criatividade e inovação.
Para além de gerar produtos e serviços diversos, a equidade é capaz de produzir retorno direto. O relatório ainda bastante atual “O poder de paridade: Como avançar a igualdade das mulheres poderia adicionar $12 trilhões ao crescimento global” traz projeções capazes de incentivar a inclusão de mulheres em diferentes setores. E outros dados também apontam como o investimento em diversidade pode fazer bem para as empresas.
Elas na linha de frente
Precisamos, como líderes e como empresa, mostrar que qualquer carreira é possível para as mulheres. Eu, por exemplo, era apenas uma das 6 garotas da turma da faculdade de Análise de Sistemas. E, assim que comecei a minha vida profissional, sabia que gostaria de ter uma posição de impacto, contribuindo para o desenvolvimento das pessoas.
E isso pode ser feito em todas as áreas. Médicas e cientistas têm causado impacto imensurável na vida das pessoas. Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical, e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP, são bons exemplos. Elas foram responsáveis pelo sequenciamento do vírus Sars-Cov-2, trabalho pioneiro e imprescindível para o desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos contra a COVID-19. Isso sem mencionar o enorme contingente de enfermeiras que seguem na linha de frente ao combate da pandemia. Elas são quase 85% dos técnicos de enfermagem no Brasil.
Como podemos mudar esse cenário?
Agora, tentando responder a pergunta do início do texto: podemos mudar um cenário de desigualdade com acesso à informação e capacitação. Se queremos ter um Brasil mais justo e um mercado de trabalho mais igualitário, vamos continuar investindo em programas para levar treinamento e conteúdo relevante para cada vez mais mulheres. E acreditamos que a tecnologia será o motor dessa mudança.
O marketing, por sua vez, pode fazer a diferença combatendo os estereótipos, exercitando a pluralidade dentro da diversidade, ajudando na construção de um futuro mais igualitário. Aqui no Google nós temos o compromisso com a diversidade e pensamos no nosso papel em relação ao crescimento de economias, também pensando no desenvolvimento humano. Nossa atuação, com nossas ferramentas e soluções, visa sempre ser o mais acessível e democrática possível.
Por isso nos comprometemos com os sete princípios de empoderamento relacionados pela ONU Mulheres. O Cresça com o Google, por exemplo, é o nosso programa de capacitação gratuito que já treinou mais de 1,6 milhão de pessoas. E desde 2017 temos uma iniciativa 100% focada em mulheres. Em 2021, em razão da pandemia, infelizmente não vamos poder nos encontrar de modo presencial. Sendo assim, faremos nossa primeira edição em formato totalmente online, levando o que há de melhor da experiência do Cresça com o Google para as mulheres de todo o Brasil, em uma escala sem precedentes.
Que as histórias de empreendedoras, de profissionais de atividades essenciais, médicas e cientistas que você leu aqui sirvam como mais uma fonte de inspiração. Eu, Paula, continuo querendo ter uma atuação de impacto, contribuindo para o desenvolvimento das pessoas, mas não desejo ser “o exemplo”. Se a diversidade vem do diferente, temos que incentivar e criar meios para que cada uma possa causar impacto com a sua própria trajetória.
Fonte: Google