“A crise tem rosto de mulher.” A frase dita no discurso do Secretário-Geral da ONU sintetiza o panorama atual das mulheres na América Latina.1 Sabemos que elas foram as mais afetadas durante a pandemia e que, também por isso, temos novos desafios quando falamos em mitigar a desigualdade de gênero.
No Brasil, as mulheres ficaram ainda mais expostas à crise durante a pandemia. A participação delas no mercado de trabalho brasileiro caiu, chegando a 45,8% no terceiro trimestre de 2020, o nível mais baixo desde 1990, segundo dados mais recentes divulgados pelo Ipea.2 Isso se deve, de acordo com o estudo, ao fechamento de creches e escolas e à dificuldade de acesso às redes de apoio informais de cuidado com as crianças, como parentes e vizinhos.
No paralelo, o home office não é uma realidade para todas: a modalidade de trabalho remoto ficou restrita às mulheres mais abastadas. Somente 26% dos entrevistados afirmaram que passaram a trabalhar remotamente em função da pandemia, segundo a pesquisa “Visível e Invisível – A vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Datafolha.3
Esses números confirmam que, mesmo após a pandemia, as lacunas de emprego e a falta de reconhecimento permanecem um desafio a ser superado. E, olhando para o futuro, o Fórum Econômico Mundial afirma que, nesse ritmo, as mulheres permanecerão incomparáveis aos homens em termos de remuneração e liderança por pelo menos 136 anos.4
Nesse contexto, a pergunta que nos fazemos é: como podemos começar hoje a mudar a realidade de nossos espaços de trabalho e nos tornar os aliados de que as mulheres precisam? Aqui no Google, acreditamos e incentivamos a formação de equipes diversas, capazes de criar produtos e serviços que atendam verdadeiramente às necessidades das pessoas. Esse pensamento ajuda no crescimento sustentável de marcas e coloca mais um tijolo na construção de mudanças comportamentais na sociedade. Para ser um agente dessa mudança, listamos 3 ações para sua marca ou agência colocar em prática hoje:
1. Reconheça o trabalho não remunerado que as mulheres fazem em casa
Quando se trata de trabalho não remunerado, historicamente existe um abismo entre as atribuições ditas femininas e masculinas. No Brasil, antes mesmo da pandemia, as mulheres dedicavam mais do que o dobro das horas semanais que os homens aos afazeres domésticos. E esse panorama se apresenta desde cedo: garotos brasileiros de 10 a 14 anos passam, em média, 2,7 horas por semana em atividades domésticas, enquanto as garotas da mesma idade dedicam cerca de 7,6 horas.5
Para cumprir todas as responsabilidades do cuidar, as mulheres que trabalham fora de casa, muitas vezes, têm que se levantar mais cedo para exercer tarefas domésticas ou encontrar tempo para dar conta da casa. Não à toa, os dados indicam que, desde o início da pandemia, aumentaram as consultas relacionadas à simplificação das tarefas domésticas.
Como você pode ser um aliado?
Uma forma de demonstrar empatia e ajudar as mulheres é questionando os estereótipos. Por exemplo, o tempo de fala feminino é historicamente maior em propagandas de bens de consumo não duráveis, como nos mostra o mapeamento do Instituto Geena Davis de Gênero da Mídia. Por que, então, homens não podem ser figuras relacionadas ao cuidado da casa?
2. Reconheça a liderança feminina
No Brasil, de acordo com um estudo levantado pelo Fórum Econômico Mundial, as mulheres ocupam 39,4% dos cargos de gestão no país.6 E embora a pandemia tenha piorado vários indicadores, também revelou que hoje, mais do que nunca, são necessários líderes com empatia, compaixão e adaptabilidade diante das adversidades. E, durante o lockdown, as mulheres demonstraram fortes habilidades de liderança e a capacidade de gerar resultados comerciais positivos.
As startups fundadas ou cofundadas por mulheres na América Latina geraram mais receita do que as criadas por homens, apesar de terem obtido menos fundos de investimento desde a pandemia em comparação com as empresas masculinas.7 Embora todos digamos que uma grande liderança não tem gênero, está claro que as mulheres ainda não têm as mesmas oportunidades que os homens.
Como você pode ser um aliado?
Todos nós precisamos mudar nossa visão masculina de liderança e estar cientes de que a falta de visibilidade das mulheres líderes é uma barreira e um problema em si. O primeiro passo é saber qual é a situação atual das mulheres em sua empresa, aonde você quer chegar com isso e como vai medir esse progresso. Em seguida, comunique essa perspectiva. Sempre mantenha as pessoas no centro das decisões que você toma – nunca se esqueça de que equipes diversas geram produtos diversos, obtendo melhores ideias e melhores resultados.
3. Crie espaços inclusivos nos quais as mulheres possam falar
Você conhece os termos mansplaining e manterrupting? Ambos fazem alusão às dificuldades das mulheres serem ouvidas durante as reuniões, nas quais persistem os estereótipos de gênero. Em geral, quando um homem fala, ele é considerado um especialista. Já quando uma mulher faz o mesmo, ela pode ser vista como agressiva ou insistente.
Muitas reuniões podem facilmente virar monólogos ou incluir interrupções repetidas quando é a vez das mulheres falarem. Todos nós precisamos nos implicar para criar espaços seguros nos quais as mulheres possam ser escutadas facilmente.
Como você pode ser um aliado?
Como primeiro passo, certifique-se de usar uma linguagem inclusiva. Ouça as experiências de seus colegas sem invalidar o que eles dizem. Realize reuniões inclusivas, criando mecanismos que permitam a participação de todas as vozes. Se alguém for interrompido, chame a atenção e assegure-se de que possa terminar de falar. Valide boas ideias e certifique-se de que sejam atribuídas a quem realmente as pertence.
Temos muito trabalho pela frente e as mulheres já têm muitas responsabilidades em suas mãos. Como colegas de trabalho, chefes, empresas e marcas, podemos ser os aliados de que as mulheres precisam. Leva tempo, esforço, erros e aprendizados (a propósito, aqui estão algumas ferramentas que podem abrir caminhos para você).
Acima de tudo, é essencial que não fiquemos nas perguntas e passemos à ação. Vamos começar com alguns dos pontos que detalhamos acima e já estaremos dando o primeiro passo nesse longo e emocionante caminho em direção à igualdade.
Fonte: Susana Ayarza, Google.